Três Macacos

Três Macacos
Autor Milton Roza Júnior - semendereç[email protected]
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Enquanto se preparava para ir ao trabalho veio na lembrança de Kin a história de Gandhi e o que ele carregava em sua bolsa nas suas viagens. Relembrou que eram coisas simples como agulha, linha e, dentre outras miudezas, o símbolo dos três macacos; sabia que este grande homem era de uma humildade extrema, compreendia que se sua roupa se retalhasse teria agulha e linha para reconstituí-la, porém, por que motivo carregaria o símbolo dos três macacos com um tapando a vista, outro tapando os ouvidos e, por último, a boca. O itinerário de sua casa até o ofício não era tão longo assim, decidindo ir, após o relógio despertá-lo, a pé.

Morava sozinho, homem jovem e de poucos amigos, tinha só uma namorada de cada vez, pois tratava a sua libido não só como genital e sim energética como yung. Kin lia muito, porém não conseguia se esclarecer muito bem sobre símbolos e por que eram tão importantes. "Por que um homem tão inteligente quanto Gandhi carregava isto? Talvez para se lembrar sobre algo", disse a si mesmo. Kin se vestiu, percebeu que tudo estava desligado, somente a geladeira a funcionar, deu três giradas na chave da porta de saída como era de costume, rezou e começou a andar.

A uns treze metros de sua residência viu uma mulher extremamente bonita, de cabelos longos que se espalhavam pelos seus ombros, busto avantajado e corpo que lembravam ondas no mar chorando numa esquina, não sabia o que o dominava naquele momento quando viu aquela bela mulher, resolveu, então, seguir os seus instintos. Dirigiu-se a ela e, com bastante tato, tentou consolá-la perguntando: Por que uma menina tão bonita quanto você está parada nesta encruzilhada e tão triste? Não fique assim o mundo dá voltas e logo, logo tudo passa. Ela, em completa mudez, dirigiu seus olhos para Kin numa questão de micro-segundos, ele notou que seus olhos tinham um tom azul esverdeado, tinha o rosto redondo como a Lua, boca carnuda... Naquele momento ele sentiu uma atração muito grande por esta solitária mulher, fez outras perguntas para saber onde morava e se precisava de ajuda, não sabia ao certo qual delas fez primeiro, o importante era ajudá-la. Ela disse que estava morando há pouco tempo a algumas quadras dali. Ele, num tom heróico, disse que a levaria para casa, visto que era próximo ao seu trabalho e ainda estava no seu horário.

Acompanhou-a até onde disse que residia. Ela parecendo muito agradecida o convidou para entrar e tomar um café. "É o mínimo que eu posso fazer" disse a Kin. Ele sentiu-se seguro, entrou. Nem se atentou da importância das viradas de chave na tranca, como fazia costumeiramente, e também não se importou da mulher ter dito que tinha perdido o molho de chaves por isso tinha deixado a porta encostada. Sua curiosidade lhe apertava o cérebro. Kin sentou no confortável sofá da sala de estar esperou ansiosamente pelo café descafeinado. " Eu só gosto de descafeinado é mais puro", disse a mulher. Ela trouxe duas xícaras, e enquanto ela passava por sua frente, fitou suas partes sinuosas imaginando de que jeito seria sem aquele vestido vermelho. A morena fez questão de sentar bem próximo a Kin passando a xícara com uma mão e apoiando a outra em sua coxa. Ele, no mesmo segundo, a olhou e quis beijar a carnuda boca, pareciam dois ímãs se aproximando, as xícaras, ainda em suas mãos, quase caíram, contudo era o símbolo do agradecimento da moça, firmou entre os dedos e cada vez mais o corpo da mulher desaparecia em sua visão, só se percebiam as bocas meio abertas e a ofegante respiração espalhando o vapor do café por entre os corpos. Tão próximos quanto a Lua e o Sol ela desviou sua rota e beijou sua face. " Não estou pronta para isso neste momento", disse ela. Ele, pelo fato da tentação ter sido cortada, se reiterou em questionamentos. Por que não? Qual é a sua preocupação? O que você teme? Por que estava em lágrimas? A mulher então responde: "Tudo será esclarecido, vamos tomar o café sem cafeína primeiro, ele me deixa mais tranqüila". Kin, com o café mais morno, tomou de uma vez para ouvir logo suas respostas. Ela também tomou só que mais moderadamente e disse: "Vou levar esta louça, já volto, reconfortesse enquanto isso".

Kin começou ficar calmo, até demais. Pensou na sua noite mal dormida e fechou os olhos. Adormeceu. Quando acordou, olhou para o relógio e os ponteiros estavam juntos indicando ser meio-dia, tirou seu celular do bolso e viu que tinham três mensagens: uma do seu chefe, uma de sua namorada e outra desconhecida. Procurou a moça sem nome pela casa inteira, menos no sótão. Subiu a escada que o acessava, abriu a pequena porta, e o vapor da quentura do local misturado com um cheiro de podridão entrou rapidamente pelas suas narinas. Lembrou que, normalmente, próximo a entrada existe sempre um disjuntor; com mistura de temor e ansiedade ligou-o, no estalo ascenderam várias lâmpadas mostrando nitidamente o motivo de sua ida até lá. Existiam três corpos no chão: um casal de idosos e uma criança.

Uma tremedeira com bater dos dentes apossou-se de si. Desceu da escada como se descem bombeiros em filmes à procura de incêndio. Só que Kin já o tinha encontrado, os degraus que ligavam o primeiro ao segundo andar da casa pareciam de escada rolante, coisa que se faz em vinte segundos ele fez em dois. A maçaneta deslizava em suas mãos, pois o mesmo líquido viscoso do disjuntor agora estava espalhado pela sua camisa social branca, estava todo sujo de sangue coagulado. Uma sirene que se mostrava de som agudo se tornou grave e finalmente bateram na porta insistentemente dizendo: " Abra, é a polícia!!!" O fato se consumou em sua mente e realmente tudo foi esclarecido como ela dissera, e principalmente o significado dos três macacos:" NÃO OLHE PARA O MAL, NÃO OUÇA O MAL E NÃO FALE COM O MAL".




 
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Conteúdo desenvolvido por: Milton Roza Júnior   
O autor Milton Roza Júnior, lançou seu livro "A Semente" na bienal do Rio de Janeiro (estande M33/pavilhão VERDE). Uma conquista feita por trabalho, empenho e talento. O escritor só tem a agradecer e nada a pedir. NAMASTÊ.
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