O Cajado

por Wilson Francisco

Em 1969, eu fiz um curso de evangelizador infantil na FEESP, tomei essa iniciativa como parte de um projeto/sonho que era o de realizar palestras, entendia que esse curso me facilitaria essa jornada. E até hoje me sinto realizado, com aquele curso, pelo tanto que me auxiliou para falar em público e pelas pessoas que conheci e que me proporcionaram uma aventura espiritual extraordinária.

Conheci, nessa época, a Maria das Candeias, a Dirce e o Cairbar e eles me deram a oportunidade de trabalhar na Casa Transitória Fabiano de Cristo, Departamento de Assistência Social da FEESP.
Éramos um grupo de amigos, todos os sábados das 8h da manhã até a hora do almoço nos dedicávamos à tarefa de apoio e orientação espiritual das crianças que acompanhavam as famílias, assistidas naquela instituição.

Terminada a atividade, nos reuníamos para refazer energias e o fazíamos conversando, estudando e cantando e o fruto dessa cantoria, foi um pequeno Coral. E, para nossa alegria, tivemos a honra de cantar para o médium Chico Xavier, num dia em que ele visitou a Casa Transitória. Um outro privilégio tivemos, quando a Tia Luiza (Luiza Peçanha Camargo Branco) uma maestrina genial, que falava com as mãos, se propôs nos preparar para esse evento. Ensaiamos e cantamos para o Chico a música Companheiro, com a letra extraída do livro Ave Cristo, ditado por Emmanuel. Esse evento foi um acontecimento memorável, indescritível.

Certa vez, a Luiza, uma outra companheira de trabalho foi para a Europa, de volta trouxe noticias e imagens muito belas dos países e costumes dos povos que conheceu. E ela nos contou da sua emoção quando viu, numa cidade do interior da Itália, um pastor com um cajado nas mãos caminhando com as ovelhas pelas campinas verdejantes. Esta , do pastor com um cajado nas mãos, é de uma fidalguia, singeleza e segurança que mexe com nosso coração.
Eu me lembrei dessa inusitada experiência, quando uma cliente narrou a experiência que ela teve, num atendimento individual que realizei. Dizia ela: “A sensação que mais gostei nesse processo de viajar para o mundo paralelo, foi a de ficar numa sala de cristal cheia de vidros que ao mesmo tempo são espelhos. Senti que a luz no local como que penetrava meu corpo energético, desvendando-me um mundo de sensações excelentes e, o mais emocionante, foi quando vi ali a minha frente, um ser de luz com um cajado na mão”.

Há recursos, na vida, que podem se transformar em referência importante para nossa caminhada. A visão de um cajado é marcante, pela excelência que essa imagem causa em nosso íntimo. Outras cenas podem também ser uma sinalização interessante. Num processo que eu realizava, a cliente só trazia na lembrança imagens mórbidas, que travavam seu campo de energias. Fomos rebuscando sua história, até que finalmente ela disse: Wilson, eu me lembro, tinha quatorze anos e meu pai me levou numa festa de quinze anos de uma amiga da escola. Eu coloquei um vestido muito lindo, ganhei um sapato novo e na festa dancei com meu pai e com outros meninos, foi genial. E chorou de emoção.

Pois bem, essa imagem tão linda e importante na vida daquela mulher, estava como que guardada, escondida mesmo, como se algo em seu corpo ou na sua personalidade tivesse a nítida intenção de que aquele momento de felicidade ficasse oculto. É a tal da sabotagem, que fazemos com a gente mesmo.

Numa outra oportunidade, uma pessoa que realizava o processo da mutação, ficou quase cinco minutos pensando em alguma qualidade que ela possuía, para me dizer e juntos fazermos a lista dos recursos de que dispunha para iniciar uma nova vida. Os defeitos, ela os descrevia com uma extraordinária rapidez. Talvez, porque as pessoas que a rodeiam, teimam em repetir e apontar suas invirtudes. E veja que estranho, né? Como uma criatura pode realizar uma transformação para melhor em sua vida, se não consegue identificar seus próprios talentos?

Costumo dizer, lembrando o Hélio Ribeiro, que fez há dezenas de anos o programa Correspondente Musical, que “quando Pedro, fala de Paulo, você sabe mais de Pedro do que de Paulo”. Portanto, se o seu passado condena você, se há dedos ameaçando sua intimidade, saiba que o juiz que vai decretar sua ida para o “céu ou para o inferno”, é você mesma.

Portanto, desde já trate de inventariar seus talentos, suas lembranças boas, os momentos de felicidade que você teve em sua vida. São poucos? Que importa, são seus, isso é o que conta. E traga para seu coração essas lembranças, como eu fiz no inicio desde artigo, recordando-me de fatos e pessoas que trouxeram uma época que se perde na noite dos tempos, mas que se encontra gravada e muito bem gravada em meu coração.

O médium Chico Xavier, ainda quando estava nessa dimensão, falou numa entrevista que nas situações difíceis ou de insegurança ele recorria a uma imagem, para sustentar-se. Era uma cena que ele vira ainda quando jovem. Enquanto trabalhava, via passar na rua uma mulher simples, magra, com um filho grudado em seu peito, a criança era especial. E a expressão da mãe não era de cansaço. Seu olhar tinha um brilho incomum, uma luz interna que se irradiava de sua alma para todos que a percebessem.

Pois bem, essa era a imagem que inspirava o médium mineiro, e a de tantas outras pessoas, pode ser de um santo, de um pôr do sol ou de uma cena ou fato que tanto empolgou sua infância e juventude. É isso, sua luz está dentro de você, aguardando que você abra a janela do seu corpo e brilhe!