Carma, para ser vivido ou mudado?

por Valéria Bastos

Muito se fala sobre carma, o que é, como funciona em nossa vida e são várias as interpretações a respeito disso. Muitas pessoas temem o carma, especialmente quando existe um viés religioso, punitivo, determinista. Ao contrário disso, eu particularmente tenho uma visão bem diferente de carma.

Carma em síntese é ação. Se é ação, obviamente, muda a todo instante. A ideia de amargar um contexto de vida por causa do carma não caberia nesse entendimento. É claro que tudo o que nos acontece tem a ver com nosso carma, nossas ações passadas nos trouxeram até onde estamos e somos assim porque repetimos os mesmos hábitos, pensamentos e ações muitas vezes. Até aí, tudo bem. O que considero importante para a liberação e emancipação do ciclo de renascimento e morte e entender e romper nesse agora esse impulso de repetir. E isso somente acontece pela ação correta, que se origina pela mente correta.

Então não há nada definitivo em nossas vidas, nenhum drama que “temos” que passar por ele pelo resto da vida para reparar um erro do passado. Se o estado da mente é correto e a ação do agora é correta, o carma muda e resultado dessa ação é colhido. Claro que não devemos nos prender a isso, nem tampouco fazer contabilidade do tipo dois pra lá, dois pra cá e aguardar o retorno da ação correta. Em tudo isso há um dinamismo grande, há um fluir das coisas, que se entrelaçam e se enredam. Nesse dinamismo, nem percebemos o ponto exato em que mudamos a respeito de algo, portanto, não percebemos também a ação do retorno. Percebemos de maneira mais ampla e genérica, coisas como deixar de se irritar por tolices, melhorar a alimentação ou parar com algum vício.

Do ponto de vista da ampliação da consciência a mudança não parece tangível e mensurável. Especialmente se ainda repetimos as mesmas encrencas. Mas estamos sim mudando, e mudamos muito, a cada dia, a cada instante. Dormirmos de um jeito, acordamos de outro, literalmente. Felizmente hoje temos muitas ferramentas à nossa disposição para crescermos ainda mais.

Então, carma é para ser vivido ou mudado? As duas coisas. Para ser vivido pois é inevitável, não podemos escapar dele. E para ser mudado a cada instante, a cada momento. Viver tudo com o frescor do momento, de maneira única, plena, íntegra. Como uma flor muito viva, orvalhada, intensa e frágil, cujo fenecer acontecerá em instantes. Viver todos os momentos de nossa vida dessa forma. Isso é a verdadeira liberação, o verdadeiro sentido da vida, esse agora, esse instante. E não, o vir-a-ser das coisas, projetadas num tempo futuro, um tempo que nunca chega. Viver a vida com frescor, como se aquilo acabasse de nascer, o primeiro sopro da vida em cada momento.

Texto revisado