Guga, criança e herói

por Wilson Francisco

"Hoje descobri como é difícil ser eu mesma. Sou mulher, complexa, e lamento por não ter sido aceita em meu jeito de Ser".

Este relato é feito por uma cliente:

"Fui criada à imagem e semelhança de Deus, sei que sou uma fagulha da luz divina. Agora sou humana, como tantas pessoas que vivem no planeta Terra.
Quando criança, tinha sonhos, sorria com facilidade, lembro-me que ouvia da minha mãe uma frase: Por que é feliz? Vive sorrindo, parece que quer conquistar o mundo?".
O tom na voz dela era de crítica e desaprovação, horrível.
As críticas, com o tempo, transformaram-se em broncas, levava beliscão, porque sorria com facilidade".

Ser mãe não é tao simples. Como lidar com seu caminho e ter que amparar e orientar uma outra criatura? Ha influências de todo tipo, seja de sua própria infância, seus conceitos e medos, interferências espirituais, de antepassados e ainda vidas passadas.

Ela continua: "Percebo hoje o mal que isso causou em mim, pois guardei em minha mente e corpo as frases e atitudes de repressão".

Tudo isso formou uma atmosfera de desconfiança e insegurança nela, mocinha, e depois como mulher e toda a aura de luz divina quase se desfez. Paradoxalmente, a mulher/mãe que deu à luz, deixa-se levar por medos e preconceitos e quase apaga a luz que ela mesmo gerou.

Ela confessa: "Não é uma crítica à minha mãe, mas a mim por ter permitido tantos comandos contrários à minha vontade pessoal, ao ponto de ter me tornado insegura e infeliz. Criei um casulo que poderia ter sido a oportunidade de me transformar numa borboleta, mas não me libertei, fiquei aprisionada".

Digo sempre, parafraseando o escritor francês Jean Paul Sartre: eu não me ocupo com o que fazem com você. Eu me ocupo, sim, com o que você faz com aquilo que fizeram com você. Ou seja, se alguém, algum dia, abandonou você, evite viver sua vida achando que todos vão abandoná-la. A mãe repudiou a alegria da filha, mas ela não poderia ter permitido que essas atitudes se transformassem em referência para seus relacionamentos futuros.

Enquanto escrevo, na Globo é apresentada uma entrevista com Guga, o maior tenista brasileiro. Ele conta, com emoção, sobre a sua infância difícil e destaca, com palavras de carinho e gratidão, a presença em sua vida de sua mãe, a companheira de todas as horas, que incentivava ele nas derrotas e vitórias. Diz ele: "ela via em mim um ser extraordinário que eu mesmo não percebia plenamente; acreditei na visão dela e segui com coragem e alegria minha jornada. Na retaguarda, eu sentia a força que se irradiava de meu pai envolvendo meu corpo e mente. E lá em minha casa, aprisionado na deficiência mental, estava o meu irmão, superando os prognósticos médicos que sinalizavam para ele uma vida de apenas seis anos. E ele venceu, vivendo até os 28 anos, sempre expressando no brilho dos olhos e nos limitados movimentos de mãos, sua alegria, como meu fã numero 1".

Minha cliente segue seu depoimento. "Eu hoje sou triste e ao mesmo tempo feliz, pois tenho ainda dentro de mim aquele sorriso".

O sonho não se desfez, a alegria de viver permanece. Ela pode não ter o brilho do Guga, afinal, cada um tem o seu próprio caminho. Mas ela superou as adversidades. Hoje é uma Assistente Social expressiva e inicia uma jornada exuberante como Taróloga. A chama não se apagou.

Ela faz um apelo: "Amigos, quero pedir, humildemente, não destruam os sonhos e nem aprisionem a essência de uma criança que Deus coloca em sua vida, deixe-a surgir e se desenvolver. Ela é um ser divino, com talentos, que poderão ser desenvolvidos através do seu amor e compreensão. Evitem a crítica que destrói ou aprisiona. Aceitem o sorriso de uma criança e os sonhos dela".