Ame-se como você é: seu verdadeiro eu é único e brilha!

por Mirtes Carneiro

Existe, em cada um de nós, uma estratégia psíquica, um padrão de comportamento, uma maneira única e individual de agirmos e reagirmos frente aos estímulos externos e internos.
Ao longo da vida, escolhemos, mesmo que inconscientemente, a forma pela qual vamos responder aos diferentes estímulos. É certo que fazemos a melhor escolha naquele momento, mas às vezes, com o passar do tempo, a estratégia eleita se torna ineficaz e desgastada. Porém, nós nos acostumamos a ela, e parece difícil ou mesmo perigoso, partir para alguma escolha diferente. Assim, vamos perpetuando nossa insatisfação, nossa frustração, nossos medos. Passamos a lidar com as situações difíceis de uma forma única, repetitiva, que foge a um processo adaptativo por meio de aprendizado, escapa a uma estratégia consciente de comportamento.

A realidade difere para cada um de nós, a realidade é apenas uma percepção individual, uma simbolização de nossas crenças, de nossos desejos, nossas fantasias, nossas expectativas, colocadas em jogo na vida real. Desta forma, a realidade é modificada pelo olhar do espectador, ou seja: eu e você! Quando conheço a minha percepção da realidade, quando me disponho a me conhecer e a me entender, aí, estarei em condições de me relacionar bem comigo mesmo e assim, vou poder me relacionar bem com os outros.

O processo de autoconhecimento é uma jornada que nos conduz para dentro de nós mesmos, é uma avaliação dos caminhos que percorremos, é uma forma de descobrir rumos explorados, estratégias traçadas, erros cometidos, vitórias acumuladas... Isto pode gerar, ao longo do caminho, tristeza, frustração, arrependimentos, mas também alegrias, gratidão, esperança, comprometimento, e, principalmente, o desabrochar da autoestima, o reconhecimento do verdadeiro eu, com suas defesas, suas decisões, suas limitações, seus potenciais inexplorados, barrados, desconhecidos até!

Todo ser humano quer ser amado, aceito, reconhecido, e para isto, às vezes, deformamos o nosso jeito de ser para agradar aos outros e cada vez mais nos distanciamos de nós, de nosso verdadeiro eu.
Quando tentamos nos adequar àquilo que os outros pensam ser bom para nós, estamos distorcendo nossa maneira natural de ser e aí começamos, nós mesmos, sem perceber, a complicar nossa própria história de vida, ou seja, começamos a nos desviar de nosso eu verdadeiro.
Se tudo pudesse correr naturalmente, cada um sendo o que é e ficar satisfeito com isso, não haveria necessidade de lutarmos uns contra os outros, pois naturalmente poderíamos amar e nos sentir amados, aceitarmos nossa condição, e termos a real percepção de que nada é para ser comparado ou mudado, o que é natural é belo e brilha, simplesmente, sem necessidade de esforço.

Só que existe uma falta, uma insatisfação, um desamparo, um desvalor que acompanha os seres humanos, um conflito interno adquirido ao longo do desenvolvimento, que gera defesas.
É dessas defesas que se trata a análise em consultório, as mais variadas formas de um sujeito lidar com seus conflitos, suas insatisfações, seus problemas. A Psicanálise trata da análise do eu e seus mecanismos de defesa.
O eu se defende, busca caminhos, envereda-se pelos mais diferentes rincões, buscando a si mesmo, buscando alternativas, e, ao longo do processo, a experiência pode gerar uma decisão de experimentar novas possibilidades. E aí: os horizontes se ampliam, a compreensão de si aumenta, a aceitação do verdadeiro eu se mostra possível.
O autoconhecimento nos permite fazer escolhas mais genuínas que nos conduzam àquilo que é o nosso desejo.
Ser você mesmo é bonito, natural e brilha, apesar dos conflitos!

Texto revisado