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Espiritualidade
A Admiração que se torna oração...
por Paula Sousa
Às vezes acontecem coisas estranhas. Passamos por um lugar, por onde passamos centenas de vezes e, de repente, parece ser diferente, novo, cheio de significados, que sequer imaginávamos. É o assombro, a contemplação, o encantamento... A admiração é a irmã da fé. É o grito cheio de surpresa que brota do mais profundo do nosso ser, diante do “mistério” que nos envolve e nos escapa. “Mistério”: este termo remete a “myo”,”fechar os lábios”, onde a pessoa leva a mão à boca para se calar e cede lugar ao ouvir e ao silêncio.
É docilidade à audição que voz que nos habita; é o sussurro que vem da realidade e das coisas, despertando o nosso ser para o espanto, para a maravilha e para o milagre. “Mistério” significa a percepção de algo escondido de uma realidade não-manifestada e não-comunicada. Nesse sentido se pode dizer que a vida humana, as pessoas com quem convivemos, a realidade que nos cerca, o universo, a história... são “mistérios” para nós. Tudo é mistério. “Mistério” não se opõe a conhecimento; não é o que não se pode conhecer de algo. Refere-se, antes, a algo que pode ser conhecido, mas o nosso conhecimento nunca consegue apreender sua totalidade. É o ilimitado do conhecimento. Conhecer mais e mais, entrar em comunhão cada vez mais profunda com a realidade que nos envolve.
Portanto, a expressão “mistério” se refere mais à inesgotabilidade da realidade que à nossa incapacidade de conhecimento. Daí que a atitude diante dessa realidade é a do silêncio, da admiração e do espanto. O mistério nos mantém sempre na admiração até ao fascínio, na surpresa até à exaltação. É a capacidade do ser humano de se comover diante do mistério de todas as coisas. Não é pensar as coisas, mas sentir as coisas tão profundamente que percebemos o mistério fascinante que as habita. Nesse sentido, “mistério” não diz respeito a teorias, a doutrinas; diz respeito antes a uma experiência, a uma vivência que nos invade e nos conduz a caminhos novos. Diante do mistério que desperta a admiração, somos convidados a enxergar além das aparências, a adquirirmos um outro olhar sobre a realidade, a vida e as pessoas. William Blake, poeta inglês, escreveu: “Ver um mundo num grão de areia, um céu estrelado numa flor silvestre, ter o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora”.
O mistério irrompe como voz que convida a escutar mais e mais a mensagem que vem de todos os lados, como apelo sedutor para nos mover mais e mais na direção do coração de cada coisa. Ele pertence a uma dimensão humana à qual todos tem acesso, quando vivem em profundidade e conseguem penetrar nos níveis mais profundos da vida. Eis a plenitude da vida: mergulhar naquela Presença benfazeja que nos enche de sentido, de alegria, e nos surpreende a cada momento, sorrindo entre as coisas.
Texto revisado
Atualizado em 10/13/2016
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