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A Importância da Aposta Dentro do Processo de Maternagem em Bebês de UTI

A Importância da Aposta Dentro do Processo de Maternagem em Bebês de UTI

por BARBARA DIERKERS BOESEL
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Bebês são pura pulsão, o que inclui, portanto, a preservação da vida e o bebê de UTI faz uma leitura de necessidade de preservação para cada procedimento que é realizado em seu corpo desde a mais tenra idade.

Crianças que nascem com quadro de saúde física comprometido recebem a informação de dor intensa desde muito cedo e, a partir dessas experiências, podem fazer uma leitura de dor para tudo aquilo que entra em contato com seus corpos.

As estatísticas dizem que um paciente em tratamento oncológico recebe cerca de 60 a 90 estímulos dolorosos ao dia. Quando justificamos os procedimentos médicos aos bebês sentimos que há uma maior entrega ao tratamento intensivo. Isso acontece porque antes, por não conseguir nomeá-los, as leituras de procedimentos eram de dor, pois foi a impressão mais impactante que vivenciaram. E os procedimentos que agora passam a ter sentido e nome, não entram mais na generalização tendenciosa de dor.

Assim, muitas das técnicas aplicadas por diversos profissionais da clínica multidisciplinar adquirem lugar no tratamento a partir de sua nomeação e justificativa, diferenciando-as da tensão e consequente dor.

O bebê passa a ser capaz, a partir dessa nomeação, de encontrar sentido para as sensações que antes da justificativa tinham somente uma direção que levava à definição de dor. Para que isso não ocorra com tanta intensidade e com menos equívocos - pois é evidente que há processos legitimamente dolorosos - é de suma importância justificarmos a finalidade dos procedimentos durante a maternagem e acolhimento do bebê.

Essas justificativas são necessárias para que haja a compreensão inconsciente do desejo de vida do outro em relação à sua vida. Assim, sentindo-se desejado e sabendo que tudo o que é feito será para sua melhora, a partir do momento que sente-se parte integrante, importante e considerada de seu tratamento, deixa de ser objeto vulnerável, passando a perceber-se sujeito capaz de, ainda que de maneira rudimentar, otimizar o tratamento e até mesmo atuar a favor de sua vida. O Outro, definido por Lacan e representado por aquele que acompanha o paciente, inicialmente pode ter assumido o papel fantasioso de algoz, passa a ser compreendido como aquele capaz de lhe ajudar a superar momentos difíceis a partir de seus conhecimentos.

Dessa forma, em com a utilização de técnicas específicas e apropriadas para cada caso, os bebês são capazes de perceber que há alguém ali, que aposta em sua melhora e desenvolvimento sadio, apesar das primeiras impressões. Afinal, se o Outro aposta, esse bebê sente-se impelido a investir também naquilo que é vocalizado e sentido a partir do olhar que chama para a vida.

Me parece que os bebês de UTI sentem-se melhores e mais calmos quando o acolhimento se dá na altura do tronco, em posição do acalentar materno , ainda que com tantos aparelhos ligados aos seus pequenos corpos. Óbvio que deve haver cuidado e bom senso. Caso não haja uma forma plausível, como no caso de bebês entubados, cabe a utilização de outras técnicas também eficazes.

Observo que música clássica e cantigas de ninar com conteúdo positivo os estimulam em direção à vida. Seus olhos encontram o que procuram a sua frente e, com o tempo, a abertura maior, o brilho e a vida se fazem presentes. Tudo isso irá contribuir para a elaboração fundamental de um Grande Outro confiável, que lhe olha nos olhos, se importa, compreende, acalenta e aposta em sua capacidade de recuperação – um olhar que puxa para a vida.

Cria-se então um sujeito que se vê no outro de forma saudável e capaz de compreender que, apesar das dificuldades, há sempre uma esperança no investimento que o outro lhe direciona. Lembremos que os bebês têm percepção e que entendem sim o que falamos e principalmente o que sentimos, apesar de não terem o aparelho fonético/fonador desenvolvido e treinado para a articulação de palavras e frases. Eles não podem responder, mas são capazes de elaborar conteúdos e, principalmente, diferenciar o que lhes é agradável do que lhes é desagradável.

Precisam apenas da nossa justificativa e compreensão, enquanto Grande Outro, para sentirem-se parte atuante e imprescindível de sua melhora e que esta, muitas vezes passará por procedimentos dolorosos, mas necessários para a vida.

Quanto aos procedimentos indolores, mas não menos assustadores por partirem do desconhecido, basta que os nomeemos e que os justifiquemos até que passe o susto inicial. Muitas vezes a criança chega até a sorrir, pois percebe que não está sozinha no processo, descobrindo uma nova sensação, que não dor. E o Outro continua ali, apesar de tudo, explicando cada passo do que lhe acontece de tempos em tempos.

Já observei bebês que antes choravam durante a fisioterapia respiratória, passando a relaxar totalmente entregues, a ponto de quase dormirem enquanto é aplicada. Bebês que antes choravam e até engasgavam por receberem soro em suas narinas passaram a não se incomodar mais e até a rirem após sua administração. Muda-se a leitura de dor para a leitura de novas sensações necessárias para sua melhora.

E quando houver dor, que seja considerada e justificada para que haja o corte da fantasia de destruição, a reelaboração e o direcionamento à pulsão de vida e melhora da saúde. Enfim, precisamos de quem escute nossas crianças ainda que sem palavras e as considere parte integrante dos tratamentos, capazes de decidir e escolher pela vida.



Texto revisado
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Atualizado em 1/30/2017

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